Marc Granell
(València, 1953)
POEMA
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ENTARDECER FESTIVO
MOTIVOS DE DESIDENTIDADE
REQUIEM
VAGA DE FUNDO
LABIRINTO
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ENTARDECER FESTIVO
Aquí sentado.
Enquanto o sol pestaneja nos charcos que ontem
quebraram a eterna simetria do pátio
onde todos os dias ao entardecer
fazíamos ginástica uniformizados,
azul e branco, entre quarenta
meninos sufocados nos seus gritos,
nos seus anseios para cada um ser
o mais hábil, mais veloz, mais forte,
para ser o mais inutilmente livre.
Aquí sentado.
Enquanto sofrias a chuva
por não ser bastante para inundar as caves
e arrastar consigo
o cavalo de arções, as barras, as paralelas
que nunca puderam sustentar-me
e apagar a sua memória, que ninguém
soubesse alguma vez que existiam
tais artefactos de tortura inocente.
Aquí sentado.
Enquanto rezavas - sem saber a quem.
Tu já não acreditavas, mas sim, era necessário
acreditar no inferno - e sentias
galopes de formigas correr pelo teu ventre
e rias, sem qualquer vontade, das piadas de algum companheiro
e esperavas.
Aquí sentado.
Enquanto observas a gente que passa
o sol pestaneja nos charcos
e já não importa. É festa
neste entardecer.
Translated by Egito Gonçalves
MOTIVOS DE DESIDENTIDADE
Intentarei tornar-me rico
e formoso
e
poderoso,
atlântico e atlético,
sorriso elástico de puríssima espuma,
corpo flexível de praia selvagem,
olhar ávido metralhando pupilas.
Há ruas escuras em demasia
e barcos parados nos charcos da memória.
Alguém sabe a natureza exacta
deste mal do cérebro
que invade todos os poros
dos sonhos?
Toda a lei nos obriga à renúncia.
E, além disso, é certo
que na próxima morte morrerão
igualmente as estátuas.
Translated by Egito Gonçalves
Quinze poetas catalães, Ed. Limiar, Porto, 1994.
REQUIEM
Que a paz esteja convosco,
irmãos no egoísmo e na estultícia.
Que vos seja favorável e acolhedora
a ratoeira que durante séculos construimos
sob a pele indestrutível de ...
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