Charles Baudelaire
Remorso Póstumo
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Dedico este poema a mim mesmo
Quando fores dormir, ó bela tenebrosa, Em teu negro e marmóreo mausoléu, e não Tiveres por alcova e refúgio senão Uma cova deserta e uma tumba chuvosa;
Quando a pedra, a oprimir tua carne medrosa E teus flancos sensuais de lânguida exaustão, Impedir de querer e arfar teu coração, E teus pés de correr por trilha aventurosa,
O túmulo, no qual em sonho me abandono - Porque o túmulo há sempre de entender o poeta -, Nessas noites sem fim em que nos foge o sono,
Dir-te-á: "De que valeu cortesã indiscreta, Ao pé dos mortos ignorar o seu lamento?" - E o verme te roerá como um remorso lento.
O Possesso
Cobriu-se o sol de negro véu. Como ele, ó Lua De minha vida, veste o luto de agonia; Dorme ou fuma a vontade; sê muda e sombria, E no abismo do Tédio esplêndida flutua;
Eu te amo assim! Se agora queres, todavia, Como um astro a emergir da penumbra que o acua, Pavonear-te no palco onde a Loucura atua, Pois bem! Punhal sutil em teu estojo esfria!
Acende essa pupila no halo dos clarões! Acende a cupidez no olhar dos grosseirões! Em ti tudo é prazer, morboso ou petulante;
Seja o que for, escura noite ou rubra aurora; Uma por uma, as fibras do meu corpo arfante Gritam: Ó Belzebu, meu coração te adora!
Destruição
Sem cessar a meu lado o Demônio se agita, E nada ao meu redor como um ar impalpável; Eu o levo aos meus pulmões, onde ele arde e crepita, Inflando-os de um desejo eterno e condenável.
Às vezes, ao saber do amor que a arte me inspira, Assume a forma da mulher que eu vejo em sonhos, E, qual tartufo afeito ...
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