Title: MEU CADERNO DE SYLVIA PLATH

Author:ROVEDO SALOMÃO
Subject:POETRY
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Salomão Rovedo


meu caderno de sYlViA pLaTh


antologia NÃO
autorizada
rascunhos&manuscritos
TRADUCIÓNS
álbum de fotos*

*****

***** *(encontrados num lixão de Cachambi,rj)
***** 2006


antologia
não autorizada

vítimas

(in)versões

& leituras

& tropeços

& lusitanismos

&tc



40 GRAUS DE FEBRE  


Pura? Que vem a ser isso? 
As línguas do inferno 
São baças, baças como as tríplices  

Línguas do apático, gordo Cérbero 
Que arqueja junto à entrada. Incapaz 
De lamber limpamente  

O febril tendão, o pecado, o pecado. 
Crepita a chama. 
O indelével aroma  

De espevitada vela! 
Amor, amor, escassa a fumaça 
Rola de mim como a echarpe de Isadora, e temo  

Que uma das bandas venha a prenderse na roda. 
A amarela e morosa fumaça 
Faz o seu próprio elemento. Não irá alto  

Mas rolará em redor do globo 
A asfixiar o idoso e o humilde, 
O frágil  

E delicado bebê no seu berço, 
A lívida orquídea 
Suspensa do seu jardim suspenso no ar,  

Diabólico leopardo! 
Aradiação faz que ela embranqueça 
E a extingue em uma hora.  

Engordurar os corpos dos adúlteros 
Tal qual as cinzas de Hiroshima e corroê-los. 
O pecado. O pecado.  

Querido, a noite inteira 
Eu passei oscilando, morta, viva, morta, viva. 
Os lençóis opressivos como beijos de um devasso.  

Três dias. Três noites. 
água de limão, canja
Aguada, enjoa-me.  

Sou por demais pura para ti ou para alguém. 
Teu corpo 
Magoame como o mundo magoa Deus. Sou uma lanterna –  

Minha cabeça uma lua 
De papel japonês, minha pele de ouro laminado 
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa.  

Não te assombra meu coração. E minha luz. 
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia 
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros.  

Creio que vou subir, 
Creio que posso ir bem alto – 
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu  

Sou uma virgem pura 
De acetileno 
Acompanhada de rosas,  

De beijos, de querubins, 
Do que venham a ser essas coisas rosadas. 
Não tu, nem ele  

Não ele, nem ele 
(Eu toda a dissolver-me, anágua de puta velha) – 
Ao Paraíso.


********************************


PAPOULAS DE JULHO


Papoulas pequeninas, pequeninas chamas do inferno, 
Vocês não fazem nada de mal?  

Bruxuleiam. Não posso pegálas. 
Ponho as mãos entre as chamas. Sem queimar.  

E me exaure olhálas 
Bruxuleando, vermelho vivo e rugoso como mucosa de uma boca.  

Uma boca em hemorragia. 
Babados hemorrágicos!

Há fumaças impalpáveis para mim. 
Onde os teus narcóticos, tuas nauseantes cápsulas?  

Ai se eu sangrasse ou dormisse! – 
Se minha boca desposasse uma ferida assim!  

Ou seus extratos levitassem a mim nessa cápsula de vidro, 
Entorpecendo e aquietando.  Mas sem cor. Sem cor. 

(20/7/1962)


*********************************


PAPOULAS DE JULHO


Ó papoulinhas, pequenas flamas do inferno, 
Então não fazem mal?  

Vocês vibram. É impossível tocálas. 
Eu ponho as mãos entre as flamas. Nada me queima.  

E me fatiga ficar a olhálas 
Assim vibrantes, enrugadas e rubras, como a pele de uma boca.  

Uma boca sangrando. 
Pequenas franjas sangrentas!  

Há vapores que não posso tocar. 
Onde estão os narcóticos, as repugnantes cápsulas?  

Se eu pudesse sangrar, ou dormir! 
Se minha boca pudesse unir-se a tal ferida!  

Ou que seus licores filtremse em mim, nessa cápsula de vidro, 
Entorpecendo e apaziguando. 
Mas sem cor. Sem cor alguma.


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OVELHA NA CERRAÇÃO


Os morros desaparecem na brancura. 
Pessoas ou estrelas 
Tristes me olham, desapontadas comigo.  

O trem deixa uma linha de sopros. 
O lento
Cavalo cor de ferrugem.  

Cascos, dolorosos guizos – 
Toda manhã a 
Manhã esteve escura,  

Uma flor esquecida. 
Meus ossos gozam de uma calma, os campos 
Longe derretem meu coração.  

Tudo ameaça 
deixar-me ir por um céu 
sem estrelas e órfão, uma água espessa.


*******************************


OVELHA NA NÉVOA


Os morros derrapam em brancura. 
Gente ou estrelas 
Me encaram com tristeza, eu as desaponto.  

O trem deixa uma linha de alento. 
Ó lento 
Cavalo ferrugento.  

Cascos, sinos dolentes 
– A manhã inteira a 
Manhã enegrecendo,  

Restou uma flor. 
Meus ossos se aquietam, os campos 
Distantes fundem meu coração.  

Eles ameaçam 
Deixar que eu passe para um céu 
Sem astro, sem pai, um charco. 

(2/7/1962 a 28/1/1963)


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A CHEGADA DA CAIXA DE ABELHAS


Encomendei esta caixa de madeira 
Clara, exata, quase um fardo para carregar. 
Eu diria que é o ataúde de um anão ou 
De um bebê quadrado 
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa. 

Está trancada, é perigosa. 
Tenho de passar a noite com ela e 
...
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