SALOMÃO ROVEDO
AMARICANTO
Canto da minha maneira.
Que me importa si me não entendem?
Mario de Andrade
(Poesia)
Sentado aqixi, escrevendo, páro e vejo
bem lá dentro de mim, acesa, a luz
que me guia para a destruição.
Torquato Neto
Rio de Janeiro 2003
20 POEMAS QUASIDARKS
1
"Aonde jazem os instantes
soturnos da peste?"
Isabel Câmara
Nem tanto ao Sol, nem tanto ao soturno:
astrônomos conjeturam a Terra sem Sol
e tão somente abraço a perda da manhã.
Nem tanto a Terra, nem tanto a Saturno:
o infmitésimo espaço que preocupa
não abarca a viagem da nave estrelar.
Nem tanto a terra, nem luminosidade:
o passo seguinte é o abismo total
- quando à beira de lugar nenhum.
Nem tanto ao Sol, nem tanto à Lua:
espacial é a noite cedida à claridade,
aos destemores diurnos e noturnos.
Nem tanto à Terra, nem tanto ao Sol:
de pés no chão diluir-se a cada pegada
e indomável amar, técnica do olvido.
Nem tanto à Lua, nem tanto ao soturno:
vagar, vagar paralisado, terror da luz,
esquecer-se, soltar-se ao plano imediato.
E enquanto astrônomos conjeturam
a Terra sem Sol, tão somente isso,
eu só lamento esta perda da manhã.
2
"Venho sistematicamente
me estraçalhando
nos vidros da janela."
Many Tabacinik
Pouco mais que isso: poesia
de cortar os pulsos sem comoção.
Um canto mais deprimente
que heroína, mas que fala de amor.
A vida perfeitamente enojada:
viver parece nunca ter fim.
Na ausência ou na existência,
que importa? Desiludidamente.
É que depois a solidão torna
tudo demais pós-comoção.
Quem está pronto para ter o coração
partido de tristeza ainda mais?
A vida é um longo caminho
perdido entre poeira e asfalto.
Quem vai crucificar o sentimento
- esse podre coração de aço?
Quando se é jovem para sempre
toda ...
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