Totò (Antonio de Curtis)
Branquinha
* * *
Num beco esconso é a minha casita:
umas águas-furtadas no sexto andar
e no Veräo, em mangas de camisa
meio charuto ponho-me a fumar
e apanho na varanda um pouco de ar.
Mal tinham dado as nove desta noite,
como de costume estava a fumar,
quando oiço um ruído nas minhas costas,
um fru-fru, um leve rumorejar.
Volto-me de repente: «Quem vem lá?»
Ponho-me à espreita e vejo no escuro
parada, muito quietinha a guardar
na velha parede um pequeno furo,
Branquinha, a alegria do meu lar.
Mas no escuro näo vi o que se passava.
E de facto näo me tinha enganado:
dentro do buraco estava um ratinho
de olhos a saltar, todo assustado,
meio morto de terror, o pobrezinho
devia pensar: desta é que eu näo escapo.
De repente o rato falou assim
com voz de enternecer o coraçäo:
«Branquinha, o que tens tu contra mim?
Deixa-me, só te peço compaixäo!»
E disse a gata: «Eu daqui näo saio!»
«Piedade, piedade! Que mal te fiz?»
E para mim se virou: «Ó meu senhor,
diga ao seu gato que me deixe sair!
Salve-me a minha vida, por favor!»
«Está bem, está bem. Branquinha, deixa-o lá!»
«Meu dono, torne lá para donde veio,
e näo se meta onde näo é chamado.
O ratinho, de facto näo é feio.
Mas sou gata, e dele vou dar cabo.
Senäo, o que estou eu a fazer cá?
«Está bem» respondi com hesitaçäo,
«resolvam entre vocês a questäo,
mas näo quero barulho nem confusäo.
Lembrem-se que sou eu aqui o paträo
e que se respeita a hospitalidade.»
«Näo vale a pena ficares escondido»,
disse-lhe a gata. «É o teu fim...
se te ...
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