COISAS DO MAR
Salomão Rovedo
I - AS AREIAS
Uma casa à beira da ria
sorri para o mar da janela.
No barco verde à deriva
pescadores tarrafeando.
Um sol na quase manhã
é como véu no corpo dela.
Guará goteja o mangue
vermelho içado de verde.
Os catadores de sururus
e caranguejos vermelhos.
Um corpo nu desmaiado
na alvura do lençol azul.
Maria, sim é Maria, é ela
que ri para o mar da janela.
II - AS BAÍAS DE SÃO MARCOS
Por aqui começa o mar noutro mar,
a mais fértil terra dos pescadores
– eu penso em ti, em mais ninguém.
E nascem na praia campos de areia,
ali aonde o mar existe e não existe,
– mais louco que nunca para te ver.
O pescador é o camponês do mar,
ameia os peixes de colheita insossa,
– posso jurar ao vento que te amo.
Roçado de sal o pescador recolhe,
siri, caranguejo, flor de manguezal,
– é um mar em forma de sedução.
III - MEL
Quando a encontrei era só açúcar,
prazer, dança, doce de goiaba e mel.
Um mar de sal e sol para temperar,
vinho branco e, ou, cerveja gelada.
Criação boa a receita de felicidade:
e assim foi o tempo das maresias,
ondas rasteiras, espaços espectros,
pores de sol. É verdade: o sol se põe?
Todos estão pensando que vou falar:
“Agora tudo é fel” (para rimar com mel),
mas que nada! Só a distância atrapalha
a convulsão mansa de nossa pele úmida.
Se possível, continua doce, mel e mel,
bacuri em calda, condimentos picantes,
sorvete de juçara... Já falei dos lábios?
Ara que boca! Ânsia devoradora! Ora...
IV - AS DUNAS
As crianças correm pelas dunas de areia fina
desviando os galhos verdes dos pés de muricis.
O vento estabanado, cabelos lisos em caudal,
esticam ...
|
|
|
|
|
|