SALOMÃO ROVEDO
QUATRO QUARTETOS DA AMADA CIDADE DE SÃO LUIS
Rio de Janeiro 2006
1: O fantasma de São Pantaleão
2: A boniteza da Ilha
3: A rebeldia elegante
4: Os arredores do Outeiro
Para Ferreira Gullar e Joaquim Itapary, cronistas da cidade e do tempo.
1: O fantasma de São Pantaleão
Orarei.
As nuvens cinzentas querem enterrar de vez este dia,
como os carrilhões das cento e cinqüenta igrejas
sepultaram de vez o dia de finados.
Caminharei.
Descalço sobre as areias ásperas da praia de Olho d´Água
até que este corpo suado e febril desfaleça
cansado entre as areias de Araçagy e Raposo.
Desejarei.
O som das Matinas de Finados pedem às flores
que enfeitem a voz das comadres - o encantado São Pantaleão
fervilha de morte e vida.
Ajoelharei.
Selo a paz com Santa Terezinha do Menino Jesus,
prometo guardar para sempre o semblante em sépia da
mulher amada, só então irei embora
com o olhar vagando perdido entre dias futuros e pósteros.
Lembrarei.
Que era setembro, chovia a chuva do tempo antepassado,
que as pistas do aeroporto estavam alagadas
- e as almas intransitáveis a vôos e velas.
Rogarei.
Perdão, sim, porque não cantei o sentimento do mundo
jamais e São Judas Tadeu sabe que não serei o bom samaritano,
nem bom coroinha. Mas que foi dali que todos partimos um dia
para navegar outras esperanças.
Sentirei.
E em memória dos ossos que habitam
os esquifes apodrecidos pela chuva, enfeito o ambiente
com o rosto lacrimoso do soluço da despedida prematura.
Visitarei.
Após as escadarias de cantaria laminada pelo lodo e da vasa,
caminhar entre os túmulos perdoados, visitante impuro,
visagem fútil entre as lajes coloridas de branco e negro
- orar para os habitantes das noites irrequietas.
Voltarei.
Quando não for mais primavera, quando a água se acalmar,
quando ...
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